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Itabira, a cidade de Carlos Drummond de Andrade

Gloria Cavaggioni e Wanderley Garcia e a estátua Fazendeiro do Ar, Itabira - MG - Foto: Wanderley Garcia / Da Janela

Itabira e Carlos Drummond de Andrade têm uma ligação muito forte. A cidade natal do poeta cultiva a história e a obra de seu filho mais conhecido. Não é para menos, Drummond conta muito de Itabira em suas poesias e prosas. Hoje a cidade retribui o poeta com uma grande quantidade de homenagens. Assim, quem visita Itabira em busca de Drummond, respira poesia o tempo todo.

Foi isso que aconteceu conosco quando partimos para um roteiro de três dias na cidade, incluindo uma participação na Semana Drummondiana. Viajamos no tempo e na poesia, o que transformou todo o passeio em algo muito especial.

 

 

Memorial Carlos Drummond de Andrade

Memorial Carlos Drummond de Andrade, Itabira-MG - Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela
Memorial Carlos Drummond de Andrade, Itabira-MG – Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela

Nossa principal referência em Itabira foi o Memorial Carlos Drummond de Andrade, um espaço dedicado ao poeta no alto do Pico do Amor, montanha encravada no meio da cidade (ou melhor, a cidade se instalou aos seus pés). Lá do alto podemos contemplar uma bela vista da cidade e constatar o cerco da mineração de ferro que vai aplainando terrivelmente a paisagem ao redor.

O prédio principal do Memorial, inaugurado em 1998, foi projetado pelo amigo de Drummond, o arquiteto Oscar Niemeyer. O longo e curvo edifício térreo abriga salas de exposições permanentes e a rica biblioteca Maria Julieta. No acervo estão exemplares raros de publicações de Drummond, livros de vários autores que faziam parte de sua biblioteca particular, e correspondências trocadas com diversas pessoas, inclusive sua mãe Julieta e sua filha Maria Julieta.

Adultos e crianças têm a atenção atraída para os autômatos criados por Agnaldo Pinho que representam o poeta em diferentes momentos de sua vida, como na infância e na juventude, quando desafiou um policial do alto do arco do viaduto Santa Tereza.

Para conhecer um pouco mais de Drummond, uma longa parede traz uma linha do tempo sobre sua vida, produção literária e os contextos nacional e mundial.

No gramado do Memorial Carlos Drummond de Andrade apresentamos nossas expedições literárias, ao lado da estátua sempre atenta do poeta que rascunha uma eterna poesia.

Ainda no Pico do Amor está instalada a Concha Acústica com um teatro de arena para até 2 mil pessoas.

 

 

A Casa de Drummond

Fachada da Casa de Drummond, Itabira - MG - Foto: Wanderley Garcia / Da Janela
Fachada da Casa de Drummond, Itabira – MG – Foto: Wanderley Garcia / Da Janela

Carlos Drummond viveu dos 2 aos 13 anos de idade no sobrado de seus pais no Centro Histórico de Itabira. A casa está preservada e hoje é um museu aberto à visitação do público.

No imóvel há vários objetos em exposição, inclusive uma reprodução do quarto onde o poeta dormia. Há também documentos, cartas e fotografias relacionadas a ele. Em uma das salas maiores, há uma exposição fotográfica dedicada a Maria Julieta, filha de Drummond.

O jardim interno preserva os canteiros em formato de estrela e corações feitos por seu irmão e que inspiraram o poema “Criador”.

Parte do imenso quintal também está preservado, com diversas árvores, inclusive frutíferas, como abacateiro e mangueira. Da vista do quintal faltam duas coisas que Drummond via em sua infância e que não existem mais: a antiga catedral ao lado da casa, demolida em 1970, e o Pico do Cauê, destruído pela mineração.

 

Museu de Território Caminhos Drummondianos

Apresentação dos Caminhos Drummondianos, Itabira - MG - Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela
Apresentação dos Caminhos Drummondianos, Itabira – MG – Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela

O Museu de Território talvez torne Itabira ainda mais especial: em vários pontos da cidade há placas de aço com poesias de Drummond. Ao todo são 44, boa parte no Centro Histórico.O poema escolhido trata sempre do lugar onde a placa está instalada. Desta forma, vamos conhecendo a história da cidade a partir do olhar de Drummond e suas lembranças.

Assistimos ainda a apresentação da Cia Itabirana de Teatro que faz performances com músicas, poesias e prosas ao longo do percurso. Nos dias que estivemos lá, a apresentação foi curta, apenas em alguns pontos do Centro. Mas em outras ocasiões acontecem as apresentações completas em todos os 44 pontos do museu de território. Ficamos com vontade de voltar em um dia assim!

 

Casarão da Fazenda do Pontal

O menino Drummond na Fazenda do Pontal, Itabira - MG - Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela
O menino Drummond na Fazenda do Pontal, Itabira – MG – Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela

A Fazenda do Pontal foi propriedade dos pais de Carlos Drummond de Andrade. Ali ele passou momentos de sua infância, embora tenha reconhecido que teve pouca ligação com o meio rural. Seu pai vendeu a fazenda quando o poeta era jovem e a família se mudou para Belo Horizonte.

Mais tarde, em 1973, o casarão foi demolido e no local foi construída uma barragem para lavagem de minério. As janelas, portas e umbrais da casa foram guardados por três décadas até que em 2004 a mineradora Vale, atual proprietária da fazenda, decidiu reconstruir o imóvel.

O casarão não foi refeito em seu local original e é ligeiramente menor que a sede antiga da fazenda. De qualquer forma, a reconstituição dos espaços principais da casa com objetos que remontam à época que Drummond passava ali, nos ajuda a mergulhar na atmosfera que inspirou o poeta em muitas de suas obras.

Em frente à casa há uma estátua de Drummond ainda menino, inspirada em uma fotografia feita em sua infância, junto a um triciclo, registrada pelo fotógrafo Brás Martins da Costa.

Casa do Brás

Casa do Brás, Itabira - Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela
Exposição na Casa do Brás, Itabira – Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela

Já que falamos do Brás, vamos contar um pouquinho da casa dele. Na Casa do Brás, um belo casarão, o que vale muito a pena na visita é a exposição fotográfica permanente Foto-Viagem nos Tempos do Mato-Dentro. Brás morou naquela casa e era um fotógrafo amador no início do século passado. Nas fotos é possível reconhecer elementos do cotidiano das famílias Itabiranas. A casa, construída em 1857, fica no Centro Histórico e abriga a Escola Livre de Música de Itabira (ELMI).

 

Estátuas de Drummond

Estátua de Drummond ao lado da Praça do Areão, Itabira - MG - Foto: Wanderley Garcia / Da Janela
Estátua de Drummond ao lado da Praça do Areão, Itabira – MG – Foto: Wanderley Garcia / Da Janela

A mais famosa estátua do poeta fica na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, cidade onde morou de 1934 até sua morte em 1987. Mas em Itabira há uma porção delas e todas merecem ser vistas.

Em frente à sede da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade há uma escultura do poeta sentado, convidando para um papo. No Memorial Carlos Drummond de Andrade o poeta é homenageado com a estátua “Fazendeiro do Ar” de autoria de Luiz Eugênio Quintão, o Genin.

Outra escultura bem interessante é a que fica na entrada da cidade, numa rotatória em frente à Praça do Areão. Um Drummond gigante, de pé, saúda quem chega a Itabira. Não deixa de ser uma provocação, já que na praça há uma antiga e enorme locomotiva. No poema O Maior Trem do Mundo, Drummond faz sua fina crítica à mineração que vai levando sua terra e sua paisagem embora para o exterior.

Já falamos também da estátua do poeta menino, em frente ao casarão da Fazenda do Pontal.

 

Arte de Rua

Painel gigante de Carlos Drummond de Andrade feito por Eduardo Kobra em Itabira - MG - Foto: Wanderley Garcia / Da Janela
Painel gigante de Carlos Drummond de Andrade feito por Eduardo Kobra em Itabira – MG – Foto: Wanderley Garcia / Da Janela

Drummond também está representado na arte de rua com grandes painéis. O mais impactante deles é assinado pelo grafiteiro Eduardo Kobra, que participou do Mapa (Mostra de Arte Pública) em outubro de 2023. O painel tem 32 metros de altura e traz um Drummond na parede de Itabira, assim como Itabira já foi um quadro na parede do poeta.

Há ainda outras obras interessantes, como o menino Drummond e sua bicicleta em formato de bolinho de 4 metros na Praça da EEMZA, de autoria da artista itabirana Raquel Bolinho.

 

Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade

Fachada da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), Itabira - MG - Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela
Fachada da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), Itabira – MG – Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela

Se você pretende visitar Itabira, vale a pena consultar a intensa programação cultural da cidade, boa parte dela realizada pela FCCDA (Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade). Lá fomos muito bem recebidos, a começar pela diretora do Departamento de Produção e Promoção Artística, Cecília Xavier, que nos fez o convite para participarmos da Semana Drummondiana. Sem contar o apoio gigante do João Victor Vieira Gonçalves, Coordenador dos Equipamentos Museológicos, que cuidou de toda infraestrutura para nossa participação.

Lá em Itabira, tivemos a acolhida da Solange Alvarenga e da Jaqueline Veloso, da equipe do Memorial Carlos Drummond de Andrade, que nos guiaram não só pelo memorial e pela cidade, como pelas histórias do poeta e de Itabira.

 

Contatos da Fundação Carlos Drummond de Andrade (FCCDA)

Telefone: (31) 3835-2102
Endereço: Avenida Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro – Itabira/MG – CEP: 35900-025
E-mail: fccdasuperintendencia@gmail.com
Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, de 8h às 12h e de 14h às 18h

 

Como chegamos a Itabira

Rodovia Fernão Dias em Itatiaiuçu-MG - Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela
Rodovia Fernão Dias em Itatiaiuçu-MG – Foto: Gloria Cavaggioni / Da Janela

Estávamos na 4ª Fliti (Feira Literária de Tiradentes) e seguimos de carro pra Itabira. Saímos bem mais tarde do que pretendíamos e isso trouxe complicações. Viajamos à noite a maior parte do tempo e pegamos muita chuva. Em Congonhas pegamos a BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Belo Horizonte. A estrada é muito movimentada e precária em alguns trechos. À noite com chuva a visibilidade é muito ruim.

Depois de atravessarmos Belo Horizonte, pegamos a BR-381 sentido Vitória. O trânsito é muito intenso, com uma infinidade de carros e carretas nos dois sentidos, com um trecho longo sem canteiro ou proteção central. Com a chuva, os faróis contrários atrapalham muito e mal víamos a sinalização de solo. A viagem foi bastante cansativa e perigosa. Quando finalmente pegamos a MG-434, a situação melhorou muito, com sinalização melhor, menos trânsito e a chuva deu uma trégua.

Na volta, fizemos o mesmo caminho até Belo Horizonte, mas durante o dia, sem chuva. Foi muito mais tranquilo, embora bastante demorado. Levamos quatro horas para percorrer os primeiros 190 quilômetros, até pouco depois de Belo Horizonte. Aproveitamos para passar a noite e curtir a manhã em São Thomé das Letras, próximo a Três Corações.

No dia seguinte, na Fernão Dias (BR-381), sentido São Paulo, o GPS nos mandou fazer um desvio por Pouso Alegre devido a grandes congestionamentos. Conseguimos escapar das longas paradas, passamos por trechos bonitos de serra, mas de novo pegamos chuva forte em locais com pista simples e a viagem não teve a tranquilidade que gostaríamos. Mas felizmente, não houve nenhum incidente e chegamos bem em casa, pensando na próxima aventura.

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