Em Rio Pardo com Um Certo Capitão Rodrigo

Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, Rio Pardo (RS)

Não há como deixar de imaginar a chegada de Capitão Rodrigo a Rio Pardo, vê-lo descer do carro de bois munido de um violão e do largo sorriso. Na praça de frente à escadaria da Igreja de Nossa Senhora Rosário, cumprimentava os homens, fitava as mocinhas, com o olhar propunha obscenidades às mulheres casadas. Ao acompanhar a saída da missa, Capitão Rodrigo se revigorava da viagem e da vida pacata que levava como marido de Bibiana Terra e comerciante em Santa Fé.

Será que ao entrar naquele importante centro comercial gaúcho no início do século 19 Rodrigo Cambará também provocou os homens do lugar com sua célebre frase:

“Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho”?

Expedições Literárias

A chegada de Capitão Rodrigo à praça de Rio Pardo não faz parte de O Tempo e o Vento, a trilogia de Erico Verissimo que inspirou nossa expedição literária pelo Rio Grande do Sul. A omissão na obra, ao contrário de ser uma falta, é uma janela para a imaginação que me permite criar cenas a partir dos episódios narrados pelo autor. Em Um Certo Capitão Rodrigo, o protagonista do capítulo foi mesmo a Rio Pardo, cansado de passar os dias atrás do balcão da venda, sem guerras, aventuras e mulheres.

Nave da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário em Rio Pardo (RS) - Foto: Da Janela
Nave da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário em Rio Pardo (RS) – Foto: Da Janela

Gloria e eu chegamos em Rio Pardo numa manhã de domingo (saiba mais sobre nossa passagem pela cidade). A missa já ia pela metade quando entramos na igreja e produzimos algumas fotos. A igreja é muito bonita. Trata-se de uma construção em barroco tardio do final do século 18. Chamaram nossa atenção o grande lustre de madeira, as pinturas nas paredes e os altares.

Altar-mor da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, Rio Pardo (RS) - Foto: Da Janela
Altar-mor da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, Rio Pardo (RS) – Foto: Da Janela

Rua da Ladeira, Rio Pardo

Saímos da matriz e de frente a ela observamos os fiéis que deixavam a nave ao final da missa. Como talvez acontecesse nos tempos de Capitão Rodrigo, vimos uma breve confusão de gente que se cumprimentava e conversava naquela manhã quente e sossegada. As portas da igreja se fecharam e em poucos minutos a pequena multidão se dispersou. Foram sumindo sem que percebêssemos e quando notamos já estávamos novamente sozinhos na praça Protásio Alves, os olhos ainda atraídos a todo momento para a fachada do templo.

Rua da Ladeira (Rua Júlio de Castilhos), Rio Pardo (RS) - Foto: Da Janela
Rua da Ladeira (Rua Júlio de Castilhos), Rio Pardo (RS) – Foto: Da Janela

Em seguida, saímos de carro por algumas ruas da cidade: vimos construções históricas, subimos a Rua da Ladeira. Aliás, quanta história tem aquela rua. Foi a primeira com calçamento de pedras no Rio Grande do Sul, trabalho das mãos escravas. Hoje é tombada como patrimônio histórico. Seu nome oficial é Júlio de Castilhos, um dos mais importantes líderes políticos do Rio Grande do Sul, líder dos republicanos no século 19. Mas antes se chamava Rua Silveira Martins, inimigo de Castilhos, líder dos federalistas. Silveira Martins e Castilhos estavam em lados opostos na Revolução Federalista, a sangrenta guerra fratricida de 1893 a 1895 quando na obra de Erico aconteceu o cerco ao Sobrado. Pelo jeito, em algum momento os rumos da política local levaram à mudança do nome da rua. Silveira Martins desceu a ladeira, Júlio de Castilhos subiu.

Fizemos um breve passeio por Rio Pardo. Nossa passagem foi muito curta, mas conseguimos apreciar o casario antigo. Por aquelas ruas e na imaginação de Erico Verissimo, Capitão Rodrigo se divertiu com cavalos, brigou com homens, amou uma mulher. Naquelas ruas, Gloria e eu vivemos um pouco mais o nosso romance e o romance de O Tempo e o Vento.

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