Por onde eu começaria uma viagem? Pelo mundo de fora? Ou pelo de dentro? Não começo a viagem pra onde vou. Começo de onde estou, de onde vou sair, às vezes sem vontade de deixar.
Resolvi começar do começo. Ao contrário da tradição mineira, parti do meio e não das beiradas. O meu meio é a casa de Luiza. Ali tudo nasce em mim e cria vida. As paredes podem não ter ouvidos, mas têm alma e intensidade. Não se sai ileso do contato com aquelas paredes flamejantes. A vida entre aquelas paredes: intensa, contraditória, pulsante. Não há espaço para o meio termo. Não bastam as tormentas que os barcos enfrentam. Luiza os coloca sob o fogo. A comédia mais divina se passa na ampla sala.
Fogo e água
Intensos
Luiza
é o que se vê
Do inferno, Dante vai direto ao céu recoberto de flores vivas e mortas, em pinturas e texturas. Enquanto vejo as flores, os olhos me vigiam ali e onde estiver, o tempo todo, até hoje. Até quando? São olhos que nos seguem por toda a viagem, onipresentes.
Casa de Luiza não tem lógica, nem racionalidade. Tem sentidos e sentimentos e neles tudo se mistura. Sagrado e profano se encontram nas telas e nos bibelôs espalhados pelas superfícies.
Tem flor
é casa de
Florêncio
Cresci sentindo essa diversidade ao mesmo tempo rica e opressora, como uma obrigação pulsante de aceitar o todo. Das novenas às congadas. Do arroz de Braga ao doce de leite no tacho, da severidade ao amor mais que carinhoso.
Bom dia
Dizem-me da Bahia
Os que me vieram ser
Em cores
Sons
Sabores
Poesia
Casa de Luiza, tão Itamogi, tão eu. De lá saio para a viagem de minha vida.
Eles nos habitam
vêm do passado
(ou do futuro? como saber?)
Caboclos
doceiras
padeiros
bicheiros
gente simples
do interior, das Gerais
de onde mais?
São almas coloridas
vivem sorrindo
um sorriso impensado
uma alegria de se ser
São os doces,
os pães
as apostas
Eles nos são